Revista
Lab 4 Inclusion … na Escola
DEFCON poder
DEFCON poder
Teresa Margarida Jorge, Professora
do Agrupamento de Escolas Terras de Larus
Desde muito criança que me apercebi que, nos lugares onde vivia, o meu mundo humano era a família (os meus pais, irmã, bisavós, avós, tios, primos), os vizinhos e outras pessoas que via passar na rua ou nas viagens que fazia e que eu desconhecia. E havia os diferentes mundos dos livros e da televisão.
A diversidade do meu mundo alargou-se substancialmente quando pisei a terra vermelha de África e vi os seus inesquecíveis arcos-íris. Tudo era bem mais distinto do que eu alguma vez tinha visto ou imaginado: pessoas com outras cores de pele, hábitos e modos de estar que despertavam a minha curiosidade e que me levava a questionar, quase de maneira interminável, os meus pais. Foi-me explicado que, no imenso Mundo, existiam muitos lugares, com pessoas diferentes de mim, falando línguas diferentes e tendo formas de viver e de pensar também diferentes. E também havia pessoas que, por esta ou por aquela razão, não podiam andar, não podiam ver, não podiam ouvir e que precisavam mais da ajuda dos outros para poderem aprender e viver. Foi também neste cenário que aprendi a ler e a escrever, a respeitar e a aceitar como algo natural tudo o que, aparentemente, era diverso do meu mundo inicial.
Na escola, como aluna, fui-me apercebendo de muitas realidades, mas, nas minhas turmas, elas não existiam. Algumas crianças/jovens eram excluídas do ensino regular e só existiam no seio familiar ou em determinados espaços.
Só, mais tarde, como professora, comecei a ver crianças e jovens com algumas deficiências nas escolas públicas, do ensino básico ao secundário: surdos-mudos, em cadeiras de rodas, etc…
Tenho dificuldade em compreender o motivo pelo qual, em pleno século XXI, ainda haja a necessidade de utilizar, mais vezes do que se deveria, os termos inclusão e exclusão.
Não somos todos seres humanos? Não temos todos um coração? Não partilhamos o mesmo planeta? Haverá maior interligação do que esta? Nem a tecnologia a consegue superar!
Acredito que, num momento ou outro, já nos sentimos excluídos, à margem, por pensarmos diferente, por agirmos de modo diverso e por gostarmos do que a maioria não gosta.
Sentimo-nos confortáveis com essa exclusão?
Decerto que não.
Se isto sucede connosco, também se repetirá com todos aqueles que têm de lidar com problemas físicos e psicológicos, com maior ou menor gravidade.
É desumano, de total insensibilidade e preconceito que ainda haja gente que olhe para “Estes como Outros”, com um esgar de piedade, desprezo e obstáculo. O estigma do diferente como sinónimo de deficiência ainda se encontra, infelizmente, na mente de muitos e o que é mais assustador é que existe uma fatia considerável de jovens que pensa deste modo e que utiliza a crueldade e o afastamento para impor uma suposta superioridade.
Como professora, trabalho, diariamente, com alunos de tantas proveniências e com problemas tão diversos. Ao longo de todo o meu percurso profissional, tenho tentado envolver os discentes em projetos que os façam despertar / alertar para uma melhor compreensão e respeito pela realidade que é “Desses Outros” e que, um dia, quem sabe, por força das circunstâncias, poderá ser, infelizmente, a sua realidade, pois a vida é muito frágil e nada está garantido.
Ao experimentarem situações que fazem parte do quotidiano de alguém com deficiência, por exemplo, andar numa cadeira de rodas, andar de olhos vendados, utilizar uma bengala de cegos, ter os braços atados para ver como se organiza uma pessoa sem braços ou sem mãos …, os alunos têm a oportunidade de se colocar, mesmo que, por breves momentos, na pele do Outro e sentir os obstáculos que enfrentam. Vivenciar tudo isto conduz a um maior respeito e aceitação pela diferença.
Muito caminho já foi percorrido, muitas conquistas foram realizadas, mas ainda há demasiados olhares de soslaio, mentes empoeiradas com o preconceito em relação às diferenças do Outro.
Todas as pessoas são únicas e têm o direito de ser respeitadas como tal, terem qualidade de vida, serem autónomas.
Se cada um contribuir com o seu grãozinho de areia, tentar encontrar as melhores soluções para que a inclusão não seja uma palavra vã, o futuro afigura-se promissor.
Ao refletir sobre tudo isto, veio-me à memória um poema de Sebastião da Gama (1924-1952), um poeta e professor, natural do distrito de Setúbal, e que, à sua maneira e na época em que viveu, contribuiu para que a inclusão fosse algo sempre muito próximo e não uma mera miragem. Era o seu sonho e penso que poderá ser também o nosso. Basta querer e respeitar. É assim tão difícil?
Margarida Albuquerque, Professora
do Agrupamento de Escolas Terras de Larus
A disciplina de Cidadania e Desenvolvimento tem como objetivo central promover uma sociedade mais justa e inclusiva através da educação. Pretende-se que os estudantes desenvolvam e participem ativamente em projetos que promovam a construção de sociedades mais justas e inclusivas, no quadro da Democracia, do respeito pela diversidade e da defesa dos direitos humanos.
A participação, enquanto docente de Cidadania e Desenvolvimento no projeto “Lab 4 Inclusion”, em parceria com a APCAS-Associação de Paralisia Cerebral Almada Seixal, com as turmas do 8.º ano C, D e E, foi uma excelente oportunidade para, de alguma forma, cumprir o objetivo da disciplina.
Nas diferentes sessões os alunos foram conduzidos/ orientados a refletir e a debater conceitos como inclusão (tantas vezes confundido com integração), preconceito, discriminação….
Experienciar, mesmo que por breves momentos, os obstáculos/ dificuldades com que as pessoas com deficiência se confrontam no seu quotidiano, ouvir testemunhos, na primeira pessoa, de todas as barreiras que lhe são impostas por uma sociedade ainda pouco inclusiva, criou a oportunidade para os alunos se colocarem no lugar do outro, de refletirem na urgência de encontrar soluções que permitam a todos, independentemente das suas diferenças individuais, as mesmas oportunidades e direitos.
Por outro lado, o facto dos alunos terem assistido ao testemunho de jovens com deficiência deixou uma mensagem a todos, que apesar das “pedras” no caminho, com vontade e, acima de tudo, resiliência, todos os obstáculos são possíveis de ultrapassar.
Por último, não podia deixar de agradecer à Ana Barradas, representante da APCAS, sublinhando o seu papel crucial na forma como motivou e conduziu os alunos nos diferentes temas/ atividades mesmo quando estes se mostraram mais resistentes. A sua experiência, sendo ainda uma jovem, enquanto membro da APCAS, veio demonstrar que a solução para a construção de sociedades mais justas e inclusivas está numa parceria ativa entre o Estado e a sociedade civil.
Revista DEFCON Poder da APCAS-Associação de Paralisia Cerebral de Almada Seixal, cofinanciada pelo Programa de Financiamento a Projetos do Instituto Nacional para a Reabilitação!
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